Transtorno do espectro autista (TEA): estatísticas, desafios e o papel fundamental da informação.

Desde o aumento significativo nos diagnósticos até a busca por intervenções eficazes e inclusivas, o autismo tem sido objeto de intenso estudo e debate nas últimas décadas. Segundo o psicólogo Gabriel Carvalho Nogueira (CRP 06/167536), pós-graduado em Neuropsicologia e Saúde Mental (HCFMUSP), “o Transtorno do Espectro Autista (TEA) se manifesta de forma variada, com sinais que podem incluir falta de contato visual, movimentos repetitivos e interesses restritos”. Essa diversidade de manifestações torna essencial uma abordagem multidisciplinar no diagnóstico e tratamento.

Estatísticas e conscientização

O aumento considerável nos diagnósticos refletem tanto um maior acesso ao diagnóstico quanto uma maior conscientização sobre os transtornos do neurodesenvolvimento.  O Brasil não tem um dado específico sobre essa população, mas a percepção de muitos especialistas é que há, sim, mais procura por consultas que possam chegar ao diagnóstico correto desses pacientes. Dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC)  dizem que 1 em cada 36 pessoas está no espectro do autismo nos Estados Unidos. Em uma estimativa, com base nesse número, o Brasil teria aproximadamente 6 milhões de autistas.

Para compreender melhor o diagnóstico diferencial do autismo em relação a outros transtornos do neurodesenvolvimento, como o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e a DI (deficiência intelectual), Gabriel destaca que “cada transtorno possui suas particularidades, embora todos estejam associados a uma predisposição genética”. Essa distinção é fundamental para garantir intervenções adequadas e personalizadas.

Intervenção precoce e terapêutica

Um aspecto crucial no processo de diagnóstico e intervenção é a avaliação multidisciplinar. Nesse sentido, Gabriel ressalta a importância de profissionais capacitados para uma avaliação abrangente e precisa: “Não basta identificar os sintomas; é preciso entendê-los e desenvolver um plano de intervenção que considere as particularidades de cada indivíduo”, enfatiza. A intervenção precoce é amplamente reconhecida como essencial no manejo do autismo “não há uma idade específica para iniciar a intervenção, mas é fundamental agir aos primeiros sinais e suspeitas, visando desenvolver o cérebro da criança de forma adequada”. A neuroplasticidade, capacidade do cérebro de se adaptar e aprender, é um fator importante nesse processo, destacando a importância de estimulação e intervenções oportunas.

Transtorno do espectro autista (TEA)

Uma parte essencial do debate sobre o autismo é a compreensão da importância da intervenção terapêutica. Nesse contexto, Gabriel destaca a ciência ABA (Análise do Comportamento Aplicada) como uma abordagem eficaz. Ele explica que “a ABA é uma ciência baseada em evidências, com programas de intervenção que visam desenvolver potencialidades, recuperar atrasos e promover a qualidade de vida de indivíduos no espectro autista”.

O Papel da família

A implementação eficaz dessas intervenções terapêuticas não requer apenas conhecimento técnico, mas também uma abordagem holística que considere o ambiente familiar e social do indivíduo autista. A participação ativa da família é fundamental nesse processo. Como menciona Patrícia, cujo filho recebeu diagnóstico de TEA na primeira infância: “Graças aos avanços da medicina, maior divulgação, conhecimento e diagnóstico, hoje temos muitas pessoas com possibilidade de compreender mais sobre o espectro autista e acima de tudo, temos pessoas que conseguem se compreender. E isso é algo incrível e libertador para muitos, inclusive pessoas que estão próximas a nós. Por isso divulguem sempre que possível. O conhecimento, e a desmistificação sobre o autismo fez com que eu buscasse ajuda na hora certa e hoje meu filho pode, mesmo com suas características próprias ter um desenvolvimento maravilhoso!. Esse relato ressalta também a importância da informação e da busca por ajuda adequada.

Desafios na inclusão social

No contexto da inclusão social, especialmente no ambiente escolar, enfrentamos desafios significativos. Segundo dados do Censo Escolar de 2023, o número de alunos com autismo matriculados nas escolas brasileiras apresentou um aumento notável. Em apenas um ano, houve um crescimento de 48%, passando de 429 mil em 2022 para 636 mil em 2023. Esse aumento pode ser atribuído ao maior acesso da população ao diagnóstico do TEA e à crescente conscientização de profissionais de saúde e educação sobre a existência dos transtornos do neurodesenvolvimento.

Gabriel destaca a diferença entre agregar e incluir, enfatizando a importância de um ambiente preparado e acessível para todas as crianças. “A inclusão vai além de reunir pessoas em um mesmo espaço; envolve conscientização, preparo do ambiente e valorização da diversidade”, salienta.

Transtorno do espectro autista (TEA)

O avanço na compreensão e no manejo do autismo é um processo contínuo que requer o envolvimento de múltiplos atores: investimentos em pesquisa, educação e políticas públicas que garantam o acesso igualitário a serviços e oportunidades para todas as pessoas.

Ao desmistificar o autismo, valorizar a diversidade e promover práticas inclusivas, com informação e apoio familiar, podemos construir uma sociedade mais acolhedora e equitativa para  todos os indivíduos, independentemente de suas características neurodiversas.

Ainda no contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA), a Suridata enriquece a discussão em uma entrevista completa com o psicólogo Gabriel, confira o conteúdo completo clicando aqui!

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