Epidemia Silenciosa: O aumento alarmante de câncer em jovens

O câncer, figura central no cenário global de saúde pública, se destaca como uma das principais causas de morte, impondo desafios significativos ao aumento da expectativa de vida em todo o mundo. Sua incidência e mortalidade têm crescido rapidamente, sendo uma das barreiras mais substanciais para o aumento da longevidade, especialmente antes dos 70 anos.

A mudança demográfica e epidemiológica impulsiona esse aumento, com uma transição marcante da mortalidade por doenças infecciosas para aquelas relacionadas a doenças crônicas. O envelhecimento populacional, associado a mudanças comportamentais e ambientais, contribui para o aumento da incidência e mortalidade por câncer.

Historicamente associado à população idosa, está se revelando como uma ameaça crescente entre os mais jovens. A análise de dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) revela uma tendência preocupante: mais de 13 mil jovens brasileiros foram diagnosticados com câncer em 2020, representando cerca de 8% do total de casos no país. Esses números lançam luz sobre uma possível epidemia silenciosa de câncer em pessoas mais novas.

Panorama Global: estatísticas e desafios

As estimativas do Global Cancer Observatory (Globocan) para 2020 revelam que ocorreram 19,3 milhões de casos novos de câncer no mundo, sendo um em cada cinco indivíduos diagnosticado durante a vida. Os cânceres mais incidentes, como de mama, pulmão, cólon e reto, demonstram a complexidade dessa condição global.

Nos países com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ações eficazes para prevenção, detecção precoce e tratamento refletem-se na diminuição das taxas de incidência e mortalidade. Em contraste, países em transição observam taxas crescentes ou, no máximo, estáveis, demandando uma gestão efetiva dos recursos para o controle do câncer.

O Brasil diante do desafio: estimativas até 2025

O aumento alarmante dos casos de câncer em jovens é um fenômeno que desafia as previsões tradicionais sobre a incidência da doença. Em contraste com a concepção anterior de que o câncer era predominantemente uma preocupação para as faixas etárias mais avançadas, os dados do INCA revelam uma realidade perturbadora.

Como mencionado acima, mais de 13 mil jovens brasileiros foram diagnosticados com câncer em 2020, representando aproximadamente 8% do total de casos no país. Essa tendência também é refletida globalmente, com um aumento expressivo na incidência de cânceres em jovens entre 1990 e 2019. Tipos de câncer historicamente associados a idades mais avançadas, como mama, colorretal, esofágico, gástrico e pancreático, agora estão emergindo em adultos jovens.

O desafio urgente é compreender as razões por trás desse aumento e implementar estratégias eficazes de prevenção, detecção precoce e tratamento adaptadas a essa faixa etária, garantindo um futuro mais saudável para as gerações vindouras.

No contexto brasileiro estima-se que, no triênio de 2023-2025, ocorrerão 704 mil casos novos de câncer, com destaque para os cânceres de pele não melanoma, mama, próstata, cólon e reto, pulmão e estômago.

A taxa ajustada de incidência, excluindo o câncer de pele não melanoma, evidencia um desafio intermediário compatível com as taxas de países em desenvolvimento, sendo 17% maior em homens do que em mulheres.

Estimativa da distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes para o triênio 2023-2025
Fonte:INCA

Desafios regionais e disparidades socioeconômicas

A distribuição da incidência por região geográfica no Brasil destaca as regiões Sul e Sudeste como concentradoras de aproximadamente 70% dos casos.

Representação espacial das taxas ajustadas de incidência de câncer por 100 mil homens e mulheres para o triênio 2023-2025
Fonte:INCA

A disparidade econômica refletida pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) se manifesta de maneira notável nas estimativas de casos de câncer para o triênio de 2023-2025.

Nas regiões do Brasil com IDH mais elevado, como Sudeste, Sul e Centro-Oeste, observa-se uma concentração significativa de casos, representando cerca de 70% da incidência total. Nessas regiões, cânceres como próstata, cólon e reto ocupam posições destacadas.

Em contrapartida, nas regiões com IDH mais baixo, como Nordeste e Norte, embora haja uma presença significativa de casos, a distribuição de tipos de câncer difere, com o câncer de estômago assumindo uma posição mais proeminente em comparação com regiões de IDH mais alto.

Essa disparidade econômica influencia não apenas a incidência, mas também os recursos disponíveis para prevenção, detecção precoce e tratamento. A compreensão dessas disparidades é crucial para direcionar esforços e recursos de maneira eficaz, adaptando estratégias de controle do câncer às necessidades específicas de cada região, contribuindo assim para a equidade no enfrentamento dessa complexa realidade de saúde pública.

Fatores de risco

A evidência epidemiológica sobre cânceres de início precoce varia entre os tipos de câncer e as regiões do mundo, com estudos populacionais, regionais e de centros únicos disponíveis na literatura. Dados de 2019 do Global Burden of Disease mostram um aumento significativo na incidência global de cânceres de início precoce entre 1990 e 2019, sendo o câncer de mama de início precoce o mais incidente.

Fatores de risco identificados para cânceres de início precoce incluem dieta, consumo de álcool, tabagismo, inatividade física e excesso de peso corporal. Surpreendentemente, níveis elevados de glicose plasmática em jejum foram identificados como um fator de risco, destacando a complexidade dos fatores envolvidos.

A compreensão completa das razões por trás dessas tendências permanece desafiadora, e fatores de estilo de vida provavelmente contribuem, enquanto áreas de pesquisa inovadoras, como o uso de antibióticos, o microbioma intestinal, poluição do ar e exposições na infância, estão sendo exploradas. A identificação de casos hereditários por meio de testes genéticos também é enfatizada como crucial para orientar estratégias de manejo e vigilância.

O estudo alerta para um aumento previsto nas taxas de incidência e morte de cânceres de início precoce até 2030, destacando a faixa etária mais afetada como sendo entre 40 e 49 anos. Isso levanta a necessidade de considerar medidas de detecção precoce direcionadas a esse grupo etário, incluindo a expansão potencial de programas de triagem.

Em conclusão, a ascensão do câncer em jovens é uma realidade que não podemos ignorar. Os números e tendências apresentados refletem uma mudança preocupante que exige ação imediata. A conscientização sobre a importância dos exames preventivos e a adoção de hábitos de vida saudáveis são passos fundamentais para reverter essa tendência e garantir um futuro mais saudável para as gerações mais jovens.

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